Clínica de Erva Medicinal

Levantei as sobrancelhas quando ela pareceu toda surpreendida com o sítio que a ia levar - o que tem? - perguntei - É erva medicinal, o meu médico deu-me a receita, por isso não faz mal nenhum - se bem que não era preciso ter a receita, porque eu conseguia sempre pessoas que me conseguiam arranjar, mas pelo menos assim não era preso - pára as dores da quimioterapia e da radioterapia. - acrescentei com um encolher de ombros e antes de entrar olhei-a - não precisas de entrar, se não quiseres.

Suspirei ao vê-lo olhar-me todo surpreendido por ter reagido daquela forma e rapidamente revirei os olhos a mim própria por ter reagido como reagi, às vezes parecia demasiado a minha mãe. Se calhar estava mesmo na altura de me divertir.
- Eu quero entrar.- disse, ao fim de algum tempo e eu própria lhe agarrei na mão, puxando-o para que entrasse comigo.

Sorri quando ela me puxou para dentro da clinica de erva medicinal e sorri olhando em volta. Levantei as sobrancelhas ao ver tanta coisa e desta vez fui a puxa-la até uns chocolates - que fixe - disse agarrando num bombom e fiz um sorriso espertinho agarrando num cesto que havia na entrada e pus o frasco com os chocolates lá dentro. - Ás vezes tens que te libertar mais - disse a Sally mas logo fiz uma careta - não quer isso dizer que vás tomar drogas - disse pegando numa caixa de chupa-chupas e numas bolachas ao lado e quando chegámos à caixa tirei lá um dos sacos que tinha mesmo erva colocando tudo para pagar juntamente com o que o médico me tinha dado.

Eu estava decidida a experimentar, de certeza que não ia morrer por causa disso, mas assim que entrámos e eu me deparei com toda aquela quantidade de coisas, foi-me impossível não ficar estupefacta de novo. Como é que existiam tantas coisas daquelas? Deixei que King me puxasse para onde ele quisesse, visto que ele percebia muito mais daquilo que eu e apesar de tudo, não consegui não me rir baixinho com o seu sorriso.
- Parece-me que hoje vou ter muito por onde me libertar.- brinquei, devido à quantidade de coisas que ele estava a comprar. Não podia dizer que não tinha curiosidade.

Já não me estava a sentir muito bem de novo, antes da quimioterapia tinha tomado uns comprimidos para atrasar os sintomas e parecia que agora estava a acabar o efeito. Suspirei passando a mão pela testa, não importava, ia ficar bem, o médico tinha dito que com a erva medicinar os sintomas não eram tão fortes e eu acreditava.
Olhei para a erva e depois para ela quando disse que tinha muito por onde se libertar - é só uma vez, não te quero ver viciada e depois os teus pais dizem que sou má companhia - disse agradecendo ao homem que me deu as coisas todas num saco gigante. - vamos - dei-lhe a mão.

Fiquei ao lado de Ray enquanto esperava que ele pagasse todas aquelas coisas e houve um momento em que comecei a ver tudo à roda, como se já tivesse estado a fumar. Respirei fundo, fechando os olhos durante uns segundos e tentei voltar ao normal, não dando grande importância, devia ter sido apenas uma quebra de tensão. Endireitei-me, já a ver as coisas mais nítidas, e consegui finalmente olhar para Ray, rindo-me do que disse.
- Os meus pais nunca iriam pensar isso de ti. - murmurei.- eles gostam muito de ti. - disse com um sorriso, que alargou quando ele me agarrou na mão, e eu encostei-me ao seu braço, deixando que me guiasse para onde quisesse.

Levantei uma sobrancelha quando a vi meio distraída - estás bem? - perguntei - tu não precisas de experimentar, tecnicamente isto é só para mim - disse para lhe esclarecer a cabeça - aposto que iam deixar de gostar assim que eu lhes viciasse a filha na droga - disse com um ar meio irónico saindo da loja. Apesar de tudo o que tinha comprado só queria experimentar, porque se o efeito não fosse melhor que os montes de comprimidos que me davam nem era preciso continuar a comprar - vamos para o meu quarto de hotel? Ou preferes ir para o jardim?

Levantei uma sobrancelha quando o ouvi dizer que eu não precisava de experimentar e olhei-o, percebendo que provavelmente me tinha visto quando me estava a doer a cabeça.
- Eu quero, já disse que quero.- murmurei, continuando a não lhe dizer o que realmente tinha acontecido. Saí da loja ao seu lado e pisquei os olhos por causa do sol.- tu não me vais viciar, eu só vou experimentar.- murmurei, encolhendo depois os ombros.- podemos ir para o teu quarto, é capaz de ser mais discreto lá.

Assenti quando disse que queria experimentar e não insisti mais. Dei-lhe a mão para que fosse ao meu lado até ao meu carro - não precisas de ir buscar os teus irmãos nem nada disso antes, pois não ?- perguntei abrindo as portas e entrando no lugar do condutor colocando o cinto. Ainda bem que o hotel não ficava assim tão longe do hospital, cinco minutos e estava lá, porque a minha cabeça já latejava e ainda não tinha tomado nada.

Sorri quando o senti agarrar-me na mão de novo e fui assim até junto do seu carro, dando a volta ao mesmo para entrar no meu lugar de sempre. Coloquei o cinto, encostando a cabeça ao banco e virei depois o olhar para ele quando o ouvi falar.
- Não.- respondi, negando também com a cabeça.- estou inteiramente por tua conta.- pisquei-lhe o olho com um sorrisinho brincalhão.