Hospital

Fiquei a olhar as duas rindo-me baixinho devido às suas expressões e passei as mãos pelo cabelo, ia ter saudades dele, mas não era nada que não se resolvesse, já lhe tinha feito tanta coisa, rapa-lo não ia ser a primeira vez. - Não se assustem - disse ao fim de algum tempo depois de já estar em pé. Agarrei apenas na garrafa de água para levar e olhei para e enfermeira, vendo o seu nome na placa, rindo-me da sua expressão. Desviei o olhar dela para Sally e encolhi os ombros - estamos despachados, anda .

- Nós só ficámos preocupadas..- disse, indo arrumar a cadeira no sítio, eu ainda não conseguia acreditar no que Alice tinha dito, ela era do piorio. Abanei a cabeça, soltando um leve suspiro e assim que voltei para ao pé deles, ouvi King falar para mim. Levantei o olhar para ele, arregalando ligeiramente os olhos e Alice virou-nos costas entre risinhos.- ela é parva. - murmurei.- não tens de fazer isto. - disse, encolhebdo ligeiramente os ombros.

Dei uma gargalhada quando olhei para a enfermeira que se ria por nossa causa, ela devia querer juntar Sally a alguém, só podia. Mas era engraçado. Desviei o olhar para Sally e revirei-lhe os olhos com um sorriso agarrando-lhe na mão para a puxar para que viesse comigo.
-Estás a gozar? O que eu preciso mais ao meu lado é de um anjo - sorri-lhe segundo as setas para fora do hospital, já estava farto dali estar e só de pensar que tinha que voltar amanhã dava-me arrepios.

Alice não parava de se rir, até os outros pacientes já olhavam para ela, tudo por causa da sua mania de se armar em cupido. Olhei-a por cima do ombro, matando-a com o olhar. Depois voltei a olhar para King, sorrindo. Pelo menos ele era uma boca companhia, e pelos vistos não se importava de estar comigo.
- Então tens um anjo por tua conta.- disse, sempre com o meu sorriso.- deixa-me só ir buscar as minhas coisas. - disse, dando uma corridinha até ao meu cacifo. Coloquei a mala ao ombro, fechando-o e voltei para o pé dele.- já podemos ir. - disse. Depois segui ao seu lado para fora do hospital.- estás bem? - perguntei. Normalmente as pessoas não se sentiam muito bem depois do tratamento, mas ele até que estava com boa cara.

Parei à porta quando ela me pediu para esperar porque ia buscar as suas costas e encostei-me a uma parede ficando a olhar para a porta onde ela tinha entrado. Sorri quando ela voltou e desencostei-me da parede indo ao seu lado lá para fora. Respirei fundo sentindo o ar livre e assenti com a cabeça - sinto-me como se tivesse um bocado drogado, mas eu estou quase sempre assim - olhei-a vendo depois como aquilo soou mal - é natural, eu não sou drogado - ri-me mas acabei por ficar mais sério - é a primeira vez, acho que não vou sentir tanto o efeito. - eu estava a dizer isto mas a minha mãe nas primeiras sessões do tratamento vomitava as tripas.

Soltei um suspiro agradado quando o quentinho do sol embateu nas minhas face pálida e ainda vechei os olhos durante uns segundos, mas logo osabri ao ouvir o que ele dizia de se sentir quase sempre drogado. Soltei uma gargalhada, por se ter atrapalhado todo, mas logo me calei, olhando para ele.
- Isso depende de pessoa para pessoa. - disse, referindo-me ao efeito secundário do tratamento.- mas ainda bem que te sentes minimamente bem. - sorri, dando-lhe um leve empurrão.- aposto que foi da companhia.

Sorri por ela se ter rido, eu era maluco mas naturalmente maluco, não drogadamente maluco. Abanei a cabeça de forma afirmativa quando ela disse que dependia de pessoa para pessoa.
-Eu sei, algumas pessoas não reagem tão bem - encolhi os ombros mordendo o meu lábio e dei-lhe um encontrão também como resposta, quando ela me fez o mesmo - eu bem disse que eras um anjo - ri-me e olhei em volta para a rua - tens alguma coisa para fazer agora? - perguntei e logo a decidi esclarecer - eu não me estou a fazer a ti, mas eu só cheguei aqui há dois dias e não conheço nada.

Ri-me baixinho quando ele retribuiu o encontrão e tentei não me desequilibrar, o que felizmente não aconteceu. Abri a minha mala assim que senti o sol embater-me nos olhos e vasculhei pela mesma até encontrar no meio daquela confusão os meus óculos de sol. Coloquei-os, sorrindo satisfeita e voltei a olhar para King, mordendo o lábio para tentar não me voltar a rir. Não queria que ele pensasse que estava a gozar com ele por me rir tanto
- Não ouviste o que a Alice disse? - sorri.- eu estou livre.- encolhi os ombros e toquei-lhe no ombro.- não te preocupes, eu não ia pensar que te estavas a atirar, eu estou a gostar da tua companhia.

Desviei o olhar para ela quando a vi a morder o lábio e acabei por me rir dando-lhe um outro encontrão, não com muita força que não queria que caísse. Ri-me quando ela disse que não estava a pensar que me estava a tirar e fiz um sorriso atrevido - Estás? então estou mesmo a atirar-me. - disse-lhe com uma leve gargalhada.

Alice era uma metediça, queria juntar-me com meio mundo, mas desta vez, tinha de lhe agradecer. King era simpático e uma boa companhia. Desta vez não me importava nada que ela se tivesse metido. Olhei para ele depois de sentir o seu segundo encontrão e ri-me, abanando a cabeça.
- Vais ter de fazer mais do que convidar-me para passear para que eu vá na tua cantiga.- brinquei enquanto me ria.

Eu pensava que radioterapia e quimioterapia no mesmo dia nem existia, mas o médico disse que queria dar um tratamento agressivo para ver se esta "ratazana", como ele lhe chamava, não voltava a aparecer. Eu concordava com ele, não com facto dele me querer matar antes do tempo. Depois de sair da radioterapia eu mal conseguia andar, o cansaço era imediato pelo que parecia. Olhei a enfermeira, Alice, com o meu habitual sorriso e ela veio ter comigo para me guiar até à cadeira fixe vazia.

Hoje não tinha acordado muito bem. Para além de um enorme desconforto, passara a manhã com uma enorme dor de cabeça. Soltei um gemido quando a campainha tocou, a anunciar-nos que era hora de ir embora, e levantei-me a algum custo, prgando na minha mala e saindo dali. Como sempre, fui deixar as minhas coisas em casa e depois segui para o hospital. Subi até ao terceiro andar e fui até à ala de oncologia, como sempe fazia.
- Bom dia jeitosa. - ouvi Alice cumprimentar-me eu apenas lhe dirigi um leve sorriso.- o que é que se passa? - ela perguntou logo.
- Não me estou a sentir muito bem. - disse apenas e antes que ela me mandasse para casa, fui dar a voltinha de sempre.

Passado cinco minutos já estava quase a adormecer, devia ser o melhor visto que o meu estômago não parecia nada pacífico. Abri os olhos ao ouvir Alice cumprimentar alguém e observei Sally dar a mesma voltinha do outro dia. Quanto mais eu ficava cansado mais ela parecia um anjo. Encostei a cabeça à cadeira ficando a olha-la meio de esguelha.
-Hey - murmurei tentando chamar a sua atenção sorrindo de seguida - porque é que estás com essa cara nada animada? - perguntei.

Depois de cumprimentar toda a gente e de me certificar de que ninguém precisava de nada, andei até King, que estava sentado na mesma cadeira de ontem.
- Hey. - murmurei, forçando um sorriso e mesmo sem ele pedir, puxei uma cadeira para me sentar, ouvindo a sua pergunta.- não me estou a sentir muito bem hoje. - confessei com um encolher de ombros e depois olhei-o.- mas já vai passar.

Juntei as sobrancelhas unindo-as na minha testa e estiquei-me até à cadeira dela fazendo força para que se aproximasse de mim, suspirei meio cansado e olhei-a.
-Quão mal estás? -perguntei-lhe agarrando na sua mão ficando à espera da sua resposta.

Voltei a levantar o olhar para ele quando senti a minha cadeira ser arrastada pelo chão, mas nem disse nada. Encolhi os ombros face à sua pergunta, e visto que a única agulha que ele tinha era no braço, debrucei-me até deixar a minha cabeça cair no seu colo.
- A minha cabeça vai explodir. - murmurei baixinho, fechando os olhos.

Sorri levemente quando ela deitou a cabeça no meu colo e puxei-a com cuidado pelo braço para que se deitasse o meu lado na cadeira. Ela era suficientemente grande e larga para isso apesar dela ficar ligeiramente em cima de mim.
-Isso faz de nós dois - disse-lhe com um sorriso - já vai passar - massajei-lhe a cabeça com a única mão que podia.

Abri apenas um olho quando senti o meu corpo ser puxado de novo. Levantei-me, vendo tudo um bocado à roda, mas logo acalmou quando me deitei perto de alguma coisa. Abri os dois olhos a custo, vendo-me quase toda em cima de King e tentei abanar a cabeça, mas de tão pesada que ela estava, eu não consegui fazer nada.
- Eu não devia.. - murmurei baixo, nem sequer terminando, soltando um suspiro quando senti as suas mãos no meu cabelo.- dói muito. - queixei-me com um gemido.

-Estás bem aqui - disse quando ela reclamar e suspirei olhando em volta para tentar pedir ajuda - já tomaste alguma coisa para isso? - perguntei - algum comprimido? - fiz uma careta quando o meu estômago se contorceu ao ouvir um som de vómito e ó não fiz o mesmo porque me controlei, desviando o olhar para Sally. - já vais ficar bem - prometi beijando-lhe a testa - podes dormir comigo - sorri-lhe - tenho mais uma hora pela frente.

Deixei-me estar deitada junto dele, visto que também já não conseguia mexer-me e apenas abanei a cabeça a todas as suas perguntas.
- Eu não quero tomar nada. - disse baixinho, eu não era muito adepta de comprimidos e derivados. Escondi a minha cara no seu pescoço assim que ouvi alguém vomitar e depois assenti ao que ele disse, aninhando-me com cuidado.- obrigada. - murmurei baixinho, antes de fechar os olhos. Nunca me tinha sentido assim, estava mesmo miserável.

Senti-me muito mais aliviado assim que abriram a janela atrás de mim e estiquei a cabeça como se procurasse ar.
-Muito melhor - murmurei só para mim olhando depois para Sally que parecia pior que eu, nem sabia como é que isso era possível. - Tens que tomar se estás muito mal - murmurei - só vai melhorar, acredita em mim - afaguei-lhe as costas olhando para a enfermeira que normalmente cuidava de mim mas que agora estava toda aterefada com a rapariga mal disposta. - Eu posso chamar a Alice, ficas com ela um bocado. Ela vai ajudar-te.

Eu conseguia ouvir a sua voz, mas o mais complicado era assimilar o que ele me dizia. Coloquei um braço em redor do seu corpo, tendo cuidado para não o magoar e senti o ambiente ficar muito mais leve quando uma brisa trespassou pelo meu corpo, deviam ter aberto uma janela. Abanei a cabeça assim que percebi mais ou menos o que ele me dizia e voltei a esconder a minha cara no seu pescoço.
- Não. - murmurei, até falar me custava.- eu não quero a Alice, quero ficar contigo. - disse muito baixinho, tentando nào gemer quando senti uma pontada na cabeça.- eu só preciso.. - não consegui terminar a frase, era como se tivesse tijolos dentro da minha cabeça, era horrível.

Mordi o lábio juntando as sobrancelhas de um modo preocupado e voltei a olhar Alice, mas ela estava tão atarefada que nem nos olhava.
-Está bem - murmurei-lhe encostando a cabeça à sua - já vais ficar bem - disse não tendo muita certeza, algo não estava muito bem aqui - vamos dormir, a cadeira é fixe - sorri colocando-a para trás encostando a cabeça à dela com cuidado. Eu só precisava de fechar os olhos para adormecer praticamente logo.

- Obrigada.- agradeci baixinho quando percebi que ele não ia chamar Alice. Eu não me sentia nada bem, mas isto devia ser apenas uma enxaqueca, como aquelas que eu tinha de vez em quando, ia passar não ia? Assenti assim que disse para irmos dormir e aconcheguei-me junto do seu corpo, mantendo os olhos fechados. Sentia até o meu estômago às voltas, mas com algum esforço, lá consegui adormecer.

Suspirei depois de me agradecer e estiquei o cobertor que estava sempre ao lado da cadeira para nos tapar. Tive que fazer um esforço para continuar com os olhos abertos mas queria ver se ela adormecia mesmo, não a queria deixar mal. Sorri ao ouvir a sua respiração mais calma e que não reagia ao meu abanão e voltei a deitar a cabeça em cima da sua fechando os olhos e adormecendo em pouco tempo.