Quarto da Sally Hastings

Relembrando a primeira mensagem :

.

- Não interessa, não ia conseguir ficar sentada sem fazer nada.- disse, depois de ele dizer que não precisava de ajuda para vomitar. Passei a mão pela sua testa suada, afastando-lhe os cabelos da mesma.- estás mais aliviado ou nem por isso?- perguntei, juntamente com um suspiro, ouvindo-o depois dizer que tinha de ir embora.- tu não vais a lado nenhum.- abanei a cabeça.- não te vou deixar ir a lado nenhum nesse estado.- disse.- e nem vale a pena ripostares, daqui só estás autorizado a ir para o meu quarto descansares.- levantei-me para o ajudar a fazer o mesmo.- ninguém te vai deixar saires daqui assim.

Abanei a cabeça quando ela me perguntou se estava mais aliviado e fiz um esforço para me levantar. A minha cabeça pesava toneladas, mal a conseguia manter erguida - não, eu tenho que ir para o hotel, eu fico bem, só preciso de dormir - suspirei baixinho - Sally, não quero chatear ninguém - encostei-me a ela quando me ajudou a levantar, mas decidi que era melhor ficar por ali antes que decidisse vomitar outra vez - eu consigo cuidar-me sozinho. A sério, não é tão mau quanto parece.

Como já seria de prever, King começou a dizer que não precisava de ficar, que não queria chatear, que ficava bem no hotel..todas aquelas coisas que eu já sabia que ele diria.
- Não vale a pena continuares a gastar saliva King.- disse séria, encostando a minha cabeça à sua quando ele se encostou a mim.- vais ficar aqui comigo e não vale a pena reclamares.- disse.- não chateias e eu já disse que não te vou deixar sozinho naquele hotel.

Passei a mão pela testa olhando para a sanita de novo. A vontade ainda não me tinha passado, mas não o ia fazer ali, ia tentar aguentar. Ia acabar por ficar bem, tinha que ficar. - só hoje - murmurei quase sem voz voltando a sentar-me e encostar a cabeça ao fresco do azulejo da casa de banho, que surpreendente me sabia bem. - mas vai acabar de jantar, eu fico bem aqui. Só preciso de estar aqui - pedi.

Ainda estava à espera de que ele continuasse a teimar, mas pelo menos concordou em ficar, nem que fosse só aquela noite, eu já ficava mais descansada.
- Obrigada por deixares de ser teimoso durante um bocadinho.- agradeci, dando-lhe um beijinho na bochecha e estiquei-me até abrir a torneira, molhando a mão para a passar pela sua cara.- eu não tenho muita fome.- respondi-lhe.- eu vou comer depois.- abanei a cabeça para reforçar o que estava a dizer.- agora fico aqui contigo e quando te sentires capaz vamos para o meu quarto.

-Não precisas de estar a fazer de enfermeira, eu prometo que isto passa - disse mal senti a água fresquinha na minha cara. Suspirei deixando de novo a cabeça cair em cima do tampo da sanita e quando percebi que ia acontecer de novo abri-o e afastei-a de perto de mim, detestava que me vissem vomitar, por mais que quisessem ajudar. Agarrei-me à sanita com força sentindo-me sem ar durante alguns momentos e limpei a boca com as costas da mão voltando a descarregar o autoclismo. - acho que já podemos ir.

-Mesmo que prometas que vai passar, eu só acredito quando vir com os meus próprios olhos.- disse e foi como se adivinhasse o que ia acontecer. Fiz uma pequena careta ao ouvir o som dos seus vómitos e ainda pensei em ir ajudá-lo, mas ele tinha-me afastado. Suspirei, esperando que terminasse para me voltar a aproximar e molhei de novo a mão, passando-a mais uma vez pela sua cara.- levanta-te devagarinho. - disse quando ele me disse que já podíamos ir para o meu quarto. Agarrei no seu braço, ajudando-o a levantar-se com calma e encostei-o a mim.- vamos ter de subir algumas escadas. - disse com um pequeno esgar.- mas não te preocupes, eu ajudo-te.

Levantei-me tal como ela me pediu, devagarinho, e apenas coloquei um braço por cima dos seus ombros para ter a certeza que não caía ao perder as forças, ou algo do género.
-Eu estou melhor - garanti-lhe - eu consigo subir escadas - abri a porta da casa de banho agradecendo mentalmente por não estar mais ninguém à minha espera e fui com ela até ao andar de cima. Olhei o seu quarto assim que me mostrou qual era - eu podia ir para o hotel - disse-lhe num resmungo.

Rodeei a sua cintura com braço meu, ao mesmo tempo que sentia o seu por cima dos meus ombros e apenas ignorei as suas tentativas, falhadas, de me assegurar de que estava bem, ajudando-o a subir até ao meu quarto. Apontei com o queixo para lhe indicar qual das portas era e depois de entrar, fechei-a atrás de mim. Rolei os olhos quando voltou a dizer que podia ter ido para o hotel e fui ajudá-lo a deitar-se.
- Pois podias, mas não era a mesma coisa. - dirigi-lhe um sorriso traquina e tirei-lhe as sapatilhas, puxando as mantas para cima dele.- vou fazer-te um chá, vai acalmar-te o estômago- assegurei.- não fujas, está bem?

Ao deitar-me, apesar de não querer que ela me ajuda-se deixei que o fizesse sorrindo levemente e abraçando-me à almofada dela. Acho que estava a alucinar ou coisa parecida.
-Acho que não vai ser preciso - murmurei referindo-me ao chá que ela estava a dizer que ia fazer. Os meus olhos pesavam bastante e quando os fechei já não os consegui abrir, adormecendo profundamente.

Fiquei a olhá-lo, pronta para sair do quarto mal ele me respondesse, mas tive de voltar para junto da cama quando falou. Juntei ambas as sobrancelhas enquanto o olhava e só quando adormeceu é que percebi o porquê de me ter dito que não ia ser preciso chá. Aproveitei para voltar a descer e fui ter com a minha mãe, descansando-a e dizendo que depois lhe explicava, apesar de achar que ela já tinha percebido. Dei-lhe um beijinho, despedindo-me também do neu pai e aproveitei que os miúdos estavam a brincar para não ser alvo de mais perguntas. Voltei a subir para o quarto, fechando a porta atrás de mim e descalcei-me também, vestindo algo mais prático e fui para junto dele, acariciando-lhe o cabelo enquanto dormia.

Abri os olhos lentamente esfregando a cara na almofada de Sally, que tinha o seu cheiro e deixei-me sorrir virando-me para o outro lado quando senti um peso que não era do meu corpo. Sorri ao ver Sally encostada a mim e coloquei-lhe um braço por trás da cabeça beijando-lhe a testa. Apesar de ter sido chata, até estava agradecido por me ter feito ali ficar.

Eu não me lembrava de ter adormecido na noite anterior, mas o que é certo é qie me apercebi de o ter feito quando comecei a despertar. Abri os olhos devegarinho, enquanto me chegava mais para o quentinho, e depois esfreguei-os, só percebendo depois que o quentinho era King. Levantei a cabeça, para ver se estava acordado, e quando vi os seus olhos abertos, estiquei-me até lhe beijar a bochecha.
- Bom dia Rayzinho. - cumprimentei com uma voz dorminhoca.- como te sentes?

Afaguei-lhe as costas quando a vi acordar e sorri-lhe levemente.
-Bem - disse - adoro o teu cheiro - ri-me levemente e comecei a sentar-me, passando as mãos pela testa e pelos olhos - mas agora vou embora - tirei as mantas de cima de mim - nem devia ter ficado cá - estiquei-me até às minhas sapatilhas para as calçar.

Sorri ao sentir o seu toque nas minhas costas e deixei-me estar encostada a ele, soltando uma leve gargalhada com o que disse.
- Se quiseres dou-te a marca do meu perfume. - disse na brincadeira mas nem tive tempo de me rir porque ele começou logo a levantar-se e a vestir-se.- mas aonde é que tu pensas que vais? - perguntei, sentando-me ao seu lado.- não sais daqui sem o pequeno almoço tomado - encolhi os ombros.- isto se eu não te conseguir convencer a ires comigo para o hospital.

-Prefiro cheira-lo em ti - ri-me olhando para ela que já estava ao meu lado. Semicerrei os olhos enquanto a olhava e atava os atacadores das minhas sapatilhas confortáveis e acabei mesmo por revirar os olhos - eu estou bem, preciso só de um banho e de trocar de roupa para ficar jeitoso de novo. - sorri-lhe - deixas-me fazer isso e encontra-mo-nos no hospital? - perguntei com um meio sorriso percebendo que estava a ficar com fome - mas aceito o pequeno almoço, porque tu tens escola.

Sorri com o que ele disse, rindo-me baixinho depois e dei-lhe um pequeno encontrão, sem força claro.
- Não te apaixones Rayzinho.- disse na brincadeira.- com esta carinha e com este cheirinho, acredita que vai ser muito difícil.- soltei uma leve gargalhada, ficando logo de seguida mais séria enquanto ele falava.- deixo.- acabei por dizer juntamente com um suspiro.- apesar de eu achar que estás jeitoso na mesma.- encolhi os ombros.- mas tu tens razão, eu tenho escola.- fiz uma careta, indo até ao meu armário, tirando de lá um vestido.- esperas só que eu me vista num instante? - perguntei com um sorriso inocente.

Ri-me com um revirar de olhos e apenas lhe deu um beijo na testa afastando-me logo a seguir não comentando sobre o que ela dizia. Não era impossível eu apaixonar-me por ela, mas eu não queria.
-Eu estou sempre jeitoso - disse ajeitando a minha camisola assentindo com a cabeça - sim, eu espero lá fora - sorri abrindo a porta para sair e encostei-me à parede do corredor.

Ri-me quando disse que estava sempre jeitoso mas nem lhe respondi, entrando na casa de banho. Mas era verdade, ele estava. Senti-me corar com os meus pensamentos e revirei os olhos enquanto me olhava ao espelho.
- Devias ter vergonha Sally Hastings.- falei para o meu reflexo, abanando a cabeça e comecei a despir-me, tomando um duche muito rápido, não me queria demorar. Embrulhei o corpo numa toalha assim que terminei e sequei-me, espalhando depois creme pelo o corpo, vestindo o vestido por fim. Lavei os dentes, penteei o cabelo numa trança e por fim, coloquei um pouco de maquilhagem e borrifei perfume pelo meu corpo. Sorri com o resultado final e voltei para o quarto, toda cheirosa.- a jeitosa está pronta jeitoso.- ri-me, piscando-lhe o olho e estiquei uma mão para ele.- anda Rayzinho, vamos tomar o pequeno almoço.

Fiquei encostado à parede todo aquele tempo, quase a definhar. Eu nunca me demorava pouco quando me arranjava, mas ultimamente nem isso fazia, agora percebia o que é que os meus amigos sofriam quando tinham que ficar à minha esperava. Passei as mãos pelos olhos, esfregando-os e só depois é que ouvi a porta abrir-se e ela a falar. Sorri levemente quando a vi e endireitei-me.
-A jeitosa podia demorar menos - brinquei com um leve sorriso.

Ri-me num tom baixo quando o ouvi dar a entender que me tinha demorado e sorri de forma inocente.
- Desculpa.- pedi, indo ter com ele.- mas tu sabes como é, jeitosa que é jeitosa demora o seu tempo a preparar-se.- encolhi os ombros e agarrei-lhe na mão, para descermos.- agora vais ter de ter um bocadinho de paciência, está bem? Eu contei à minha mãe o que se passava, mas ela não vai conseguir controlar a preocupação.- fiz uma careta.- não fujas a sete pés, eles gostam de ti.

Ri-me apenas não reclamando mais porque ela tinha razão e como eu também me demorava não devia criticar mais. Juntei as sobrancelhas quando me disse que ia ter que ter paciência mas rapidamente revirei os olhos.
-Porque é que contaste? - perguntei com um suspiro, agora iam ficar todos preocupados como se eu estivesse a morrer. Bem, eu estava, mas estava em tratamentos, era mais por isso que parecia tão morto - detesto que se preocupem comigo - resmunguei baixinho. Tinha fugido à minha família para que não se aborrecessem em tratar de mim e agora eles... - Vou contar a toda a gente da tua dor de cabeça - resmunguei-lhe baixinho sorrindo-lhe logo de seguida para não pensar que estava chateado.

Tal como seria de prever, ele não ficou nada contente quando percebeu que eu tinha contado aos meus pais, mas também, o que é que ele queria que eu fizesse?
- A minha mãe estava preocupada, querias que lhe mentisse? - olhei-o, revirando os olhos quando começou lá com as coisas dele.- eu pedi-lhe que não se preocupasse demais, e é bom que as pessoas se preocupem contigo, significa que gostam de ti, sabias? - mostrei-lhe um sorriso esperto, ignorando a sua ameaça e apertei-lhe a mão, puxando-o para descermos as escadas.

Semicerrei-lhe os olhos por já lhe ter dito algo de semelhante e fomos os dois até à cozinha. Era diferente, os pais dela não eram meus pais, eu só lhes tinha dito porque eles eram pais dela e precisavam de saber.A minha situação era mais complicada, a minha mãe tinha morrido da mesma coisa que eu, Apenas... não era a mesma coisa.
-O que vai ser o pequeno almoço? - perguntei baixinho com um meio sorriso.

Limitei-me apenas a encolher-lhe os ombros, não valia a pena ele reclamar mais, já estava feito de qualquer das formas, não havia volta a dar. Desci as escadas, puxando-o comigo e quando chegámos à cozinha senti o olhar da minha mãe posto em nós. Olhei-a, tentando que ela se lembrasse do meu pedido e vi-a assentir.
- Como te sentes King? - ela perguntou com um sorriso, ouvindo depois a sua pergunta.- é panquecas, gostas? - perguntou já num tom mais ansioso.- se não gostares eu posso fazer-te outra coisa num instante.
- Acho que não vai ser preciso.- disse, tentando que ela não começasse com aqueles ataques dela e apertei a mão de King na minha.- anda Rayzinho, vamos sentar-nos.